sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Ausência


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste


Carlos Drummond de Andrade



2 comentários:

  1. Olá Amiga,

    Belo poema que retrata a dificuldade que temos em compreender uma partida,seja ela de qual natureza for...

    Bjos no coração, luz e paz,
    Lecy'ns

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  2. Oi Gracita: Sabe que esse dia dois de novembro foi muito difícil para mim... Ainda não me acostumei com a partida da minha irmã.
    Como lidar com a dor e a saudade das pessoas que amamos?

    Beijos
    Monica
    http://deliciosarotina.blogspot.com.br

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